segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Wanting to Die
by Anne Sexton 
(tradução minha) 

Já que pergunta, na maioria dos dias não consigo lembrar.
Ando nas minhas roupas, sem marcas daquela viagem.
Então o desejo quase inominável retorna.

Mesmo nessa hora, não tenho nada contra a vida.
Conheço bem as lâminas da grama que menciona,
a mobília que colocou sob o sol.

Mas suicídios têm uma linguagem própria.
Tal como um carpinteiro, querem saber com quais ferramentas.
Jamais perguntam por que construir.

Por duas vezes já me declarei de forma tão simples,
possuí o inimigo, devorei o inimigo,
fiz minha a sua vocação, a sua magia.

Dessa maneira, pesada e pensativa,
mais quente que o óleo ou a água,
descansei, salivando pelo orifício da boca.

Não pensei no meu corpo em ponta de agulha.
Até a córnea e o resto da urina se foram.
Os suicidas já traíram o corpo.

Natimortos, eles nem sempre morrem,
mas confusos, não conseguem se esquecer de uma droga tão doce
que até crianças sorririam ao vê-la.

Enfiar aquela vida toda embaixo da língua!—
isso, por si só, se torna uma paixão.
A morte é um osso triste; machucado, diria,

mas que ainda assim me espera, ano após ano,
para desfazer com cuidado um antigo ferimento,
a esvaziar meu sopro de sua prisão cruel.

Equilibrados ali, os suicídios às vezes se encontram,
se enfurecendo com o fruto, uma lua alterada,
deixando o pão que confundiram com um beijo,

deixando a página do livro aberta de qualquer maneira,
algo não-dito, o telefone fora do gancho
e o amor, seja lá o que tenha sido, uma infecção.


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